Jornalista, cronista, romancista, dramaturgo e tricolor roxo, Nelson Rodrigues é um dos maiores nomes da literatura brasileira. Apesar de sua intensa relação com o esporte (vocês sabiam que ele era irmão do jornalista Mário Filho, que deu nome ao Estádio do Maracanã?), Nelson ficou conhecido mesmo por suas histórias picantes, cheias de malícia e adultério, que retratavam com olhar ácido a sociedade hipócrita carioca, especialmente a tijucana, das décadas de 40, 50 e 60.
Para se ter uma idéia do sucesso que fez, os folhetins que escrevia sob o pseudônimo de Susana Flag - "Meu destino é pecar" e "Escravas do amor" – alavancaram a tiragem do jornal que as publicavam de 3.000 para 30.000 exemplares. Viraram febre.
Nelson era um vanguardista. Inaugurou o teatro moderno brasileiro com sua peça “Vestido de Noiva” (1943), que dividia o palco em três planos, onde eram representados o passado, o presente e o futuro. Muy loco!
Eu sou apaixonada por sua obra, mas confesso que ainda não a conheço o tanto que gostaria. Já li quase todas as suas peças, muitos contos e acho que nenhum romance (vou corrigir esse equívoco, rs), mas isso não representa nem um terço do que criou.
Sabe o que mais me deslumbra nos textos de Nelson? É que eles retratam o ser humano maniqueísta, sem mocinhos ou bandidos e sem máscaras. Mostram o que todos tentam esconder. Além de escrever as maiores obscenidades na classe, sem baixarias.
É difícil falar de Nelson Rodrigues em poucas palavras, mas quem quiser saber mais, o site Releituras tem uma biografia maravilhosa dele.
Abaixo, transcrevo parte do conto "A curiosa", publicado em "A vida como ela é — O homem fiel e outros contos", "Companhia das Letras", São Paulo, 1992. Seleção: Ruy Castro.
No dia, às quatro horas da tarde, ela chegava no lugar combinado com um vestido novo e colante, que mandara fazer expressamente para o pecado. Antes de se deixar beijar, disse:
— Eu não fiz isso com ninguém, nunca!
E, como se não bastasse a força das próprias palavras, acrescentou: “Quero ver minha filha morta, se estou mentindo!”. Em seguida, começaram os beijos. Não satisfeita, ela pedia: “Morde!”. Uma hora e quarenta minutos depois, estava ela diante do espelho, refazendo a pintura dos lábios. Então, Serafim, que a contemplava numa espécie de febre, aproximou-se: “Diz o seguinte: se gostas do teu marido, por que fizeste isso? Por quê?”. Acabara a maquilagem; levantou-se. Face a face com Serafim, respondeu, fixando nele os olhos verdes e frios: “O único homem que tinha me beijado, o único homem que eu, enfim, conhecia era meu marido”. Pausa e continuou: “Eu quis fazer uma experiência...”. Concluiu dizendo a palavra justa: “Questão de curiosidade...”. Serafim recuou lívido, esbravejou: “Quer dizer que eu sou a experiência? Eu sou a cobaia?”. Em desespero pôs-se a vociferar contra o marido: “Aquela besta! Aquele cretino!”. Rápida, ela cortou: “Não fale assim do meu marido! Eu não admito!”. E ele:
— Falo, sim! Idiota, palhaço!
Na sua fúria terrível, segurou-a pelos dois braços:
— Agora vais me dizer, ouviste?, qual foi o resultado da experiência. Diz!
Respondeu, tranqüila, sem medo: “O pior possível. Você não chega aos pés do meu marido. Foi a primeira e última vez. Daqui em diante, nem você, nem nenhum outro idiota, põe a mão em cima de mim... Só meu marido...”.
— Eu não fiz isso com ninguém, nunca!
E, como se não bastasse a força das próprias palavras, acrescentou: “Quero ver minha filha morta, se estou mentindo!”. Em seguida, começaram os beijos. Não satisfeita, ela pedia: “Morde!”. Uma hora e quarenta minutos depois, estava ela diante do espelho, refazendo a pintura dos lábios. Então, Serafim, que a contemplava numa espécie de febre, aproximou-se: “Diz o seguinte: se gostas do teu marido, por que fizeste isso? Por quê?”. Acabara a maquilagem; levantou-se. Face a face com Serafim, respondeu, fixando nele os olhos verdes e frios: “O único homem que tinha me beijado, o único homem que eu, enfim, conhecia era meu marido”. Pausa e continuou: “Eu quis fazer uma experiência...”. Concluiu dizendo a palavra justa: “Questão de curiosidade...”. Serafim recuou lívido, esbravejou: “Quer dizer que eu sou a experiência? Eu sou a cobaia?”. Em desespero pôs-se a vociferar contra o marido: “Aquela besta! Aquele cretino!”. Rápida, ela cortou: “Não fale assim do meu marido! Eu não admito!”. E ele:
— Falo, sim! Idiota, palhaço!
Na sua fúria terrível, segurou-a pelos dois braços:
— Agora vais me dizer, ouviste?, qual foi o resultado da experiência. Diz!
Respondeu, tranqüila, sem medo: “O pior possível. Você não chega aos pés do meu marido. Foi a primeira e última vez. Daqui em diante, nem você, nem nenhum outro idiota, põe a mão em cima de mim... Só meu marido...”.
beijo rouge
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12 comentários:
Muito interessante! Eu gosto do Nelson!
Beijocas
Esse cara é pica!
Manda bem de mais!
Abraços!
Sou fã, desde sempre...esse sabe o que diz. ;)
Beijo, beijo.
ℓυηα
Excelente escolha para esta postagem.
Seu bom gosto é impecavel!
Idolatro Nelson Rodriguez...Ja encenei "Vestido de Noiva" no Teatro...Das 3 épocas retratadas na peça, vivi a personagem principal quando jovem...Realmente foi pirante, inesquecível!
Parabéns!
Beijo
T I N I N
Adoro Nelson Rodrigues!!!
Humor ácido e erotismo juntos e tudo de bom!
Dani, no danosse.com tem um video sobre camisinha, bem engraçado, seria legal postar aqui.
bjs
Dani
rometo q volto para conhecer mais de Nelson Rodrigues,sempre achei ele mesmo q controverso de uma sagacidade incrivel.
Hoje vim aqui para agradecer
sua gentileza
sua delicadeza
e seu carinho
e dizer q fez e faz muita diferença no meu dia ter vc por perto,mesmo q atravez dessa tela ,que muitos dizem fria,mas q de fria não tem nada.
Você me é muito querida
tem meu carinho e minha gratidão
De
Olá!
Adoroo Nelson!
Muito bom...
Aproveitando, venha conhecer o meu blog, Dama na Mesa. Espero que goste!
Beijos,
Nina
Dani,
revelaste de onde saiu meu apelido de Curiosa ....
Hehehe ...
Grata pela visita ...
Ótimo post ....
bjinho
Ai,Rouge!
Minha amiga secreta...rsrs
Adoro desgustar Nelson Rodrigues e também ao ponto rouge.
Beijossss!
Acho ele incrível!
beijos
Uia, ainda acabou com cara...
Hua, kkk, ha, ha...
Fique com Deus, menina Dani.
Um abraço.
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Obrigada pela visita!